PANTERA NEGRA: A METÁFORA DE WAKANDA

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Hey, vestibulando(a)! O blog de Sociologia hoje tem uma pegada diferente, vamos falar um pouco sobre diversidade cultural e estratificação social usando a metáfora de Wakanda. Esse assunto é muito importante para te ajudar a pensar criticamente sobre aspectos sociológicos divulgados por veículos de comunicação e a por em prática como repertório na sua redação. Como você já sabe da importância do blog de hoje, vamos lá!

 

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Ao longo da nossa vida escolar, aprendemos que a nossa história está diretamente vinculada ao continente africano. A nossa identidade enquanto brasileiros é o resultado de um riquíssimo processo de miscigenação entre os mais diversos grupos étnicos. Acontece que uma das grandes questões que norteiam esse debate é que esse processo não ocorreu naturalmente, mas sim por uma clara influência europeia. Essa influência foi caracterizada, entre outros fatores, por um longo período de escravidão, violência e espoliação e desumanização de vários povos que habitavam a África.

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No século XIX, permeava pela Europa os pensamentos eugenistas e o Darwinismo Social, ambas teorias racistas que pressupunham a falsa da supremacia branca. Com a Segunda Revolução Industrial e o “avanço da civilização”, nações europeias imperialistas passaram a invadir e colonizar outros países, por meio de influência militar e da dominação econômica. Os principais alvos foram a África e a Ásia. O argumento era “levar a civilização” a quem consideravam “inferiores”, pretexto para explorar seus povos e suas terras de acordo com seus interesses.

 

Assim, por séculos, a África tornou-se palco para um intenso processo de colonização (colonialismo e neocolonialismo) no qual visava o abastecimento de recursos e material humano para a Europa e suas colônias e que deixou terríveis marcas até hoje. Se hoje temos diversos países do continente com os piores índices de desenvolvimento humano, com grandes taxas de mortalidade, violência e pobreza e guerras civis, isso se deu, em grande parte, ao seu processo de colonização. Diante disso, permita-me levantar uma questão: como seria a África se não fosse a colonização europeia? O que seria da África se os seus recursos (naturais, humanos) não tivesse sido dizimados?

 

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Sim, eu sei que na ciência História não trabalhamos com o “e se?”, mas essas perguntas povoam o imaginário popular. – E se a Alemanha tivesse vencido a Segunda Guerra? – E se Roma não tivesse caído? Se a concepção moderna de ciência não nos permite divagar entre esses questionamentos, para isso que podemos usar a fantasia e esse recurso tem produzido grandes frutos dentro desse contexto. Uma tentativa de resposta foi dada no filme da Marvel Pantera Negra (2018).

 

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Na obra dirigida pelo norte-americano Ryan Coogler, o universo cinematográfico da Marvel ganha a sua realeza. O filme por si só já gerou enorme expectativa, afinal seria a primeira produção da Marvel Studios sobre um herói negro, com um elenco predominantemente negro. É importante compreender que o filme não está fora de um importante contexto social, afinal as discussões sobre racismo foram um dos principais temas debatidos ao longo dos últimos anos devido a inúmeros casos de violência contra a população negra que chocaram o mundo.

 

A história de Pantera Negra (Black Panther) dá sequência direta aos eventos do filme Capitão América Guerra Civil (2016) após o assassinato do rei T`Chaka em um atentado terrorista durante um evento das Nações Unidas. O filme conta a história de T`Challa (Chadwick Boseman), um jovem príncipe preste a assumir o trono deixado por seu pai. Acontece que, junto com a responsabilidade de ser rei, vem também a responsabilidade de herdar os poderes do Pantera Negra, tarefa que é passada de geração em geração na família real.

 

T`Challa passa a liderar Wakanda uma nação fictícia localizada na África Oriental. Um país rico que une o respeito a natureza e as tradições do seu povo com uma avançada tecnologia. Além disso, são detentores do metal fictício mais importante do universo da Marvel, o Vibranium. Carros voadores, trens de levitação magnética, displays holográficos e avançada tecnologia médica são apenas algumas das atrações que os wakandianos buscam esconder do resto do mundo. Wakanda se ergueu em meio ao espectro da colonização europeia.

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Outro ponto que merece destaque é que até então as história norte-americanas que apresentavam um super-herói negro sempre o atribuiu características eurocêntricas. Personagens negros não costumam possuir grande protagonismo. É comum que o background dos personagens não seja bem desenvolvido e que eles apareçam apenas como coadjuvantes servindo como uma espécie de sidekick de um personagem branco. Podemos citar como exemplos dentro do próprio universo da Marvel o Coronel James Rhodes, o máquina de combate e Sam Wilson, o Falcão (que depois do sucesso do pantera recebeu uma série própria).

 

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A origem do Pantera Negra no Universo da Marvel remete ao ano de 1966 (em meio ao contexto de luta por direitos civis). Apesar de Stan Lee e Jack Kirby negarem a relação, não temos como não pensar no Partido dos Panteras Negras que tiveram enorme importância na luta dos movimentos sociais ao proteger os negros dos atos de violência e segregação presentes na sociedade americana da época.

 

Já percebemos que Pantera Negra vai além de um simples filme de super-heróis, questões políticas, culturais e ideológicas incrementam a narrativa. Wakanda buscou se resguardar dos acontecimentos externos ao longo dos anos. As montanhas ao seu redor aliadas a alta tecnologia ajudaram a criar uma barreira que escondesse sua verdadeira identidade. Para aqueles que estavam do lado de fora da barreira holográfica, Wakanda não passava de um pequeno país em desenvolvimento que sobrevivia da agricultura. Uma das grandes questões que nos chama atenção é ao dilema apresentado na trama: Wakanda deve se solidarizar com outros povos da África, marcados pela opressão ou se manter afastada, cuidando apenas “dos seus próprios problemas”?

 

Ao longo da trama, esse isolamento é questionado por alguns personagens. Afinal, não seria justo que a poderosa Wakanda ajudasse negros (irmãos) que sofrem ao redor do mundo? Esse conflito de posições pode ser relacionado ao contexto de luta por direitos civis nos Estados Unidos dos anos 60, quando Martin Luther King Jr. e Malcom X divergiram sobre qual deveria ser a postura dos negros na luta por direitos. Enquanto Luther King buscava o diálogo por meio das instituições, Malcom X acreditava que a supremacia branca deveria ter fim através do conflito direto com os negros.

 

A atriz Lupita Nyongo, que interpreta a agente secreta Nakia, afirmou recentemente em uma entrevista que Wakanda representa o que as nações africanas poderiam ter sido, se não tivessem sido colonizadas pelos brancos: grandes potências tecnológicas. A temática da colonização europeia é referenciada ao longo do longa. O próprio vilão demonstra esse tipo de consciência quando provoca a funcionária de um museu londrino quando discutiam sobre artefatos africanos dos séculos XVI e XVII.

 

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O filme Pantera Negra permite a construção de um novo imaginário, diferente daquele comum ao cinema hollywoodiano sobre a África. O país fictício assume a faceta de representar todo um continente dilacerado por anos de subjugo ocidental. É nesta Wakanda preservada que brota o símbolo mais esmerado do pan-africanismo, movimento que tem como mote principal a união de todos os povos do continente africano, após séculos de exploração brutal.

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E aí, my friend, gostou desse conteúdo que preparamos especialmente para você? Espero que sim!

 

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